Crimes que chocaram o país: Evandro Caetano

Guaratuba, PR. O ano era 1992, o dia 6 de abril marcaria um evento que levaria a pacata cidade aos holofotes da imprensa nacional, o garotinho Evandro Ramos Caetano, desaparecia. Nos anos 80 e 90, o estado passava por uma onda de desaparecimento de crianças, a maioria permanece sem notícias até hoje. Ao todo foram 28 crianças desaparecendo no período, em Guaratuba, dois meses antes, já havia desaparecido outro menino: Leandro Bossi. Este o governo do estado, “oficializou” sua morte 30 anos após o sumiço. No ano de 1993, crianças encontraram uma ossada em um matagal. Ao submeter o material a um exame de DNA, acredita-se que inicialmente se tratava de Leandro. Contudo, na época, constatou-se que os restos pertenciam a uma menina que nunca foi identificada.

Dias depois, sem ter notícias, um corpo de uma criança é localizado em uma mata da região. Após o suposto reconhecimento, um primo da família e ex-investigador da Polícia Civil Diógenes Caetano dos Santos Filho, passou, por conta própria, a fazer investigações paralelas baseadas em especulações e acusou Celina Abagge e sua filha Beatriz Cordeiro Abagge de terem usado o corpo do menino para um ritual de magia negra. Assim sendo o caso passa a ser conhecido como “as bruxas de Guaratuba”.

Constatando o desaparecimento

Evandro tinha apenas 6 anos. No dia, pela primeira vez, sua mãe o autoriza a ir sozinho para a casa do colégio, simplesmente para pegar um brinquedo e um lanche; inclusive ela trabalhava no colégio. A distância era apenas 150 metros. Passado vinte minutos, ela observa que o filho ainda não havia voltado. No entanto, imaginou que poderia ter passado na casa de um parente, já que também era próximo. Contudo, ao voltar para casa e encontrar a porta trancada, o lanche e o brinquedo em cima da mesa, percebeu que algo errado aconteceu.

No entanto, cinco dias depois, lenhadores localizam o corpo de uma criança no matagal, sem vários órgãos, como o couro cabeludo, as vísceras e parte das mãos e pés. Dessa forma o próprio pai reconheceu que aquele seria o corpo do filho, devido a uns detalhes: uma mancha que o menino tinha nas costas e as chaves da casa e a cueca da criança.

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Jornal da época

Os acusados

Foto: reprodução Globo play
  • Celina Abagge, então primeira dama do município;
  • Beatriz Abagge, filha do prefeito;
  • Osvaldo Marcineiro, jogador de búzios, pai de santo;
  • Vicente de Paula Ferreira, colega/ajudante de Marcineiro;
  • Davi dos Santos Soares, artesão de Guaratuba;
  • Francisco Sergio Cristofolini, vizinho e dono do imóvel onde Marcineiro morava;
  • Airton Bardelli, funcionário da serraria da família Abagge.

As investigações policiais indicaram que Celina e Beatriz, respectivamente esposa e filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge, encomendaram um ritual religioso que resultou na criança sendo vítima.
Cinco dos envolvidos confessaram o crime: Beatriz, Celina, Osvaldo, Vicente e Davi. Alguns forneceram confissões em fitas de áudio, enquanto outros o fizeram em vídeo. Contudo, após editar essas gravações, elas serviram como base para o processo do caso. Vale destacar que a colaboração de informações por meio dessas evidências foi crucial para a condução do processo judicial.

Portanto, devido à repercussão que o caso estava tomando, populares revoltados com a história apedrejaram a casa do prefeito. Assim sendo a imprensa nacional acompanhava cada desdobrar do caso Evandro Caetano.

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Julgamentos e condenações

Ao todo 34 dias, inquérito com 150 mil páginas, até hoje o julgamento mais longo da história do país. E foram ao todo cinco julgamentos diferentes. Mãe e filha ficaram presas três anos e nove meses em regime fechado e dois anos em prisão domiciliar.

Uma das testemunhas, que afirmava ter visto o garoto entrar no carro dos acusados, se contradisse no julgamento. Um dos peritos, que fez um exame que não apontou tortura nas acusadas, se suicidou no dia de prestar depoimento, as suspeitas também de as fitas estarem editadas.

Por fim, o sistema inocentou Beatriz e Celina, pois não havia comprovação de que o corpo era, de fato, do menino. Provas mostravam que o corpo encontrado era maior do que Evandro Caetano. No entanto, o Ministério Público conseguiu a anulação do júri. Um dos motivos era que os jurados desconsideraram que um exame de DNA apontava que o corpo era mesmo de Evandro. Dessa forma, novos julgamentos foram marcados.

Os primeiros a passar por novo júri foram Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos e Vicente de Paula; desta vez condenados. Em 2005, absolveram Airton Bardelli e Francisco Sergio Cristofolini. Agendaram o julgamento da Abage para 2011; no entanto, não julgaram Celina por ela ter mais de 70 anos. Condenaram a filha a 21 anos de prisão.

Divulgação em um jornal da época

Reviravoltas

Assim sendo o caso do Evandro Caetano sempre foi complexo e de difícil solução. Dessa forma, ao longo dos anos provas vieram e foram desfeitas. Ainda teve informações desencontradas, acusações de confissões sobre tortura. E dessa forma, mais uma vez, o TJ-PR aceitou a revisão criminal. E isso se deve a repercussão de informações que foram reveladas pelo jornalista Ivan Mizanzuk, em um podcast. A matéria apresentada traz provas e um elemento determinante na abertura do processo de revisão: fitas comprovariam que os acusados confessaram participação no crime sob tortura. O TJPR reconheceu a tortura, anulou todas as provas e absolveu todos os acusados que haviam sido condenados.

Até hoje o caso Evandro Caetano é cercado por mistérios, quem matou ele e o que de fato aconteceu? Além disso, muitas teorias surgiram sobre o caso. Devido o desaparecimento de diversas crianças, teorias ( sem base) foram criadas pelo imaginário popular. Dentre essas histórias que elas eram vítimas de tráfico de nroubo de órgãos, ou para serem usadas em rituais.

Dentre as histórias que iam surgindo no decorrer que as investigações avançavam era que o acusador teria armado contra a família Abagge. Inclusive uma das histórias diz que Evandro está vivo, aliás não só Evandro, mas Leandro Bossi também. Quem defende está história aponta que os meninos foram sequestrados e traficados para o exterior. Inclusive a linha ainda afirma que as ossadas encontradas não passa de farsa para encobrir o tráfico de crianças.

Desfecho caso Evandro

Entre idas e vindas já são mais de 30 anos. Um caso que ganhou muito a repercussão na época, e a revolta da opinião pública. Jornais trabalhavam com outro estilo: sensacionalismo. E isso de certa forma moldava a opinião pública. Assim sendo, o caso já estava “resolvido” bastava apenas condenar.

Mas entre um processo e outro, entre uma evidência e outra, nada de chegar a um veredito. Provavelmente, todos os acusados e que de certa forma estão no cenário do caso irão morrer e não se chegará a conclusão do que aconteceu no dia 6 de abril de 1992, em Guaratuba, no litoral paranaense. E você o que pensa do caso, deixa sua opinião.

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