Muito além da cuia e da erva, o chimarrão guarda séculos de tradição, resistência e identidade sul-americana. Descubra por que esse costume segue vivo e o que ele revela sobre quem o compartilha.
O vapor sobe lentamente. A bomba repousa dentro da cuia como uma antena cultural, e o amargo da erva-mate anuncia: começou a roda.
Quem toma chimarrão, na maioria das vezes, não está apenas se hidratando. Está cultivando um ritual de pertencimento.
Presente em praças, cozinhas, campings, o chimarrão virou símbolo do sul, mas nasceu muito antes da divisão de estados e fronteiras.
🌿 Onde tudo começou?
A origem da bebida remonta aos povos indígenas Guarani, que já usavam a erva-mate como tônico espiritual e medicinal. Com a chegada dos colonizadores, o costume se espalhou entre tropeiros, missioneiros e camponeses.
Aliás, o nome “chimarrão” vem do espanhol “cimarrón”, que significava “selvagem” — uma referência à forma rústica de consumir a planta.
📍 Regiões onde o chimarrão reina absoluto
No Brasil, o Rio Grande do Sul é o berço da tradição, mas o hábito também é forte em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e até em bairros com migrantes no Sudeste.
Fora do país, Uruguai, Argentina e Paraguai disputam com orgulho a autoria e o estilo do preparo. Inclusive, em Montevidéu, é comum ver pessoas andando com a cuia em uma mão e o garrafão térmico na outra — como se fosse extensão do corpo.
💚 Por que o chimarrão ainda resiste ao tempo?
Porque ele não é apenas uma bebida. Ele é uma pausa com propósito, um elo entre gerações, uma desculpa para conversar.
Em um mundo dominado pela pressa, o chimarrão exige espera. Exige atenção. Não se toma chimarrão correndo — e talvez seja esse o segredo da sua força.
Além disso, traz benefícios para o corpo e a mente:
– Rico em antioxidantes
– Estimula a digestão
– Melhora a circulação
– Traz sensação de saciedade
– Contém cafeína, mas de forma mais suave que o café
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🤔 Curiosidades que nem todo mateador conhece
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O formato da cuia influencia o sabor — as mais estreitas concentram o calor e intensificam o amargo.
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A primeira água, chamada de “cevar”, geralmente não é bebida — é a preparação da bomba e da erva.
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Em muitas rodas, o dono da cuia toma o primeiro gole, considerado o mais forte e “lavador”.
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Tomar chimarrão sozinho não é solidão — é introspecção, é ritual pessoal.
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O chimarrão não é só para o frio: em pleno verão, ele segue firme, inclusive em praias e campings.
🧉 Roda de chimarrão: código de conduta não escrito
Quem entra em uma roda de chimarrão, entra também em um acordo de respeito.
>Não se agradece ao devolver a cuia, pois isso indica que não quer mais participar da roda.
>Não se limpa a bomba na boca — falta de etiqueta.
>Não se interrompe quem está “cevando” — é ele quem cuida do ritmo da roda.
E nunca, em hipótese alguma, se derrama a água da térmica fora da cuia por distração. Para muitos, é quase pecado. 😅
🌎 Tomar chimarrão é carregar um pedaço da terra no peito
Seja no campo ou no asfalto, o chimarrão é um símbolo de resistência afetiva.
Quando a cuia passa de mão em mão, ela costura laços invisíveis, reconecta histórias e acalma ansiedades.
Quem toma chimarrão não quer apenas matar a sede — quer ocupar o tempo com significado.
Quer ouvir o silêncio, trocar olhares e saborear, mais do que a erva, a companhia.
Enquanto houver uma cuia, uma bomba e um punhado de erva-mate, a tradição seguirá viva.
Na roda, ninguém está sozinho.
No mate, mora o sul — e um Brasil que insiste em preservar o que realmente importa.
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