Está marcado para este domingo, 03, um plebiscito na Venezuela para que os eleitores respondam se desejam que parte da Guiana, cerca de 70% seja anexada ao seu território. O anúncio foi feito pelo presidente, Nicolas Maduro, no último dia 10. A região reclamada pela Venezuela é a de Essequibo e é disputada pelos dois países a mais de um século. O que acendeu ainda mais o interesse pela região foi a recém-descoberta de uma bacia imensa de petróleo, estimada em mais de 10 bilhões de barris. Fato que fez a Guiana ser a nação que mais cresceu no ano.
Venezuelanos são ensinados desde os primeiros anos na escola, que o Essequibo pertence a Venezuela e a maioria cresce com este sentimento. Desta forma, é possível prever o resultado da consulta popular. O presidente da Guiana, Mohameed Irfaan Ali, disse que o referendo é um crime internacional; mencionou ainda que a Venezuela tenta enfraquecer a integridade da Guiana. O tratado de Washington, assinado em 2 de fevereiro de 1897, determinou a linha divisória entre a até então, colônia britânica, e a Venezuela. O Reino Unido e a Venezuela concordaram que os resultados do acordo seriam uma solução completa, perfeita e final.
A Guiana pediu na Corte Internacional tomasse medidas emergenciais para impedir o referendo, no entanto, Maduro disse que fará de qualquer forma. A região em disputa tem 125 mil moradores e estes não serão consultados.
Como fica os vizinhos
Colômbia e Brasil acompanham com tensão a movimentação na região. Já existe uma circulação militar na região. A fronteira entre os países é cercado por matas, a única forma de entrar por terra é pelo estado brasileiro de Roraima. Brasil já demonstrou preocupação sobre uma possível guerra e uma escalada no conflito. EUA já fala em novas sanções para o país. Já a Guiana espera uma ação do governo brasileiro para intermediar o conflito.
Mohameed, declarou que espera que a sensatez prevaleça, no entanto, o governo está se preparando para qualquer cenário. Ainda, segundo ele o referendo é “uma ameaça para a paz e a segurança na América Latina e no Caribe”.
Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, viajou até Caracas, semana passada. A visita ao presidente venezuelano foi na tentativa de persuadir Maduro. Amorim pediu para que exista o dialogo e baixar o tom das ameaças, pois tal conflito poderá trazer uma instabilidade regional.
E Se vier a guerra?
A América do Sul costuma ser uma região pacífica, raros são os casos de guerra, ainda mais por disputas territoriais. Em um cenário de conflito a Guiana sairia em desvantagem, já que tem uma população reduzida e uma tropa militar mais reduzida ainda, cerca de 4000 homens e praticamente ser armamentos de guerra. No entanto, é possível que o país receba alguma ajuda dos EUA, já que grandes corporações estão instaladas na região e quem sabe até da Inglaterra.
E as eleições presidenciais estão próximas na Venezuela, uma conquista histórica, poderia alavancar a popularidade de Nicolas Maduro que concorrerá as eleições novamente.
Atualmente no mundo temos diversos conflitos, tais como: Rússia e Ucrânia; Israel e Hamas; de grupos étnicos na África. Além disto, a China já vem ameaçando Taiwan. Percebeu este tabuleiro? Conflitos em cada região do mundo.
Em um primeiro momento, uma guerra no norte da América do Sul, traria um fluxo de refugiados de venezuelanos e guianenses. Os países vizinhos: Brasil, Colômbia e Suriname sentiriam, em um primeiro momento, este impacto caso a guerra se prolongue, o que muitas acreditam ser apenas um blefe de Maduro para conquistar popularidade.
De quem é Essequibo?
A disputa já é antiga, vem desde o século XIX, na época as fronteiras eram estabelecidas por acordo entre as potências européias. E as fronteiras a quais conhecemos atualmente, veio do laudo arbitral de Paris em 1899. Contudo a Venezuela se baseia no acordo de Genebra de 1966, com o Reino Unido. antes da independência guianesa, em que Londres e Caracas concordam em estabelecer uma comissão mista “com a tarefa de buscar uma solução satisfatória” para a questão, uma vez que o governo venezuelano considerou o laudo arbitral de 1899 “nulo e vazio”.
Porém, no acordo que a Venezuela baseia seu laudo, Londres apenas reconhece a intenção venezuelana, mas não respalda sua interpretação de que o laudo arbitral de 1899 foi baseado em uma fraude.
Após a independência da Guiana a controvérsia foi parar na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A CIJ, no entanto, foi escolhida para a solução da disputa em 2017 pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que se valeu da prerrogativa estabelecida pelo próprio Acordo de Genebra no caso de as partes não chegarem a um entendimento.