As eliminatórias da Copa do Mundo estão entrando em sua fase decisiva e já começam a desenhar o quadro de participantes. Até o momento, apenas duas confederações concluíram o processo: a Oceania, com a Nova Zelândia classificada e a Nova Caledônia na repescagem, e a Conmebol, que garantiu seis seleções: Argentina, Equador, Colômbia, Uruguai, Brasil e Paraguai.
A Bolívia ainda mantém vivo o sonho de voltar a disputar o torneio — sua última participação foi justamente nos Estados Unidos, em 1994. Para isso, a seleção boliviana terá em março a chance de jogar a repescagem intercontinental, onde pode conquistar a vaga.
Mas se Venezuela, que deixou escapar a vaga, Peru e Chile já estão fora, como a América do Sul pode chegar a oito representantes no Mundial? A resposta está fora da Conmebol.
Pouca gente se dá conta, mas Guiana e Suriname são países sul-americanos filiados à Concacaf. E é justamente o Suriname quem está muito próximo de conquistar, pela primeira vez em sua história, a classificação para uma Copa do Mundo.
A seleção surinamesa tem feito uma campanha surpreendente na fase final da Concacaf. Nessa etapa, 12 seleções foram divididas em três grupos de quatro. Os líderes de cada grupo se classificam diretamente, enquanto os dois melhores segundos lugares vão para a repescagem mundial.
O Suriname lidera seu grupo após empatar com o favorito Panamá e vencer, fora de casa, o El Salvador, considerado um adversário difícil. Na próxima rodada, a equipe encara a Guatemala, lanterna da chave, e pode dar mais um passo histórico rumo ao Mundial.
Suriname aposta em liga profissional e talentos para chegar ao Mundial
Quem olha de fora pode imaginar que a campanha do Suriname rumo à Copa do Mundo é fruto do acaso, já que as seleções anfitriãs do Mundial não disputam as eliminatórias. No entanto, a realidade é bem diferente. A Federação Surinamesa de Futebol vem investindo pesado no desenvolvimento da modalidade no país, com destaque para a criação da Suriname Major League (SML), a primeira liga profissional do país, lançada em 2024.
Além disso, o país tem apostado em infraestrutura esportiva e na contratação de profissionais qualificados para a seleção principal, refletindo um esforço claro para elevar o nível do futebol nacional.
Talvez você não associe nenhum nome de peso ao Suriname — mas, indiretamente, conhece vários. Jogadores históricos como Ruud Gullit, Clarence Seedorf e Virgil van Dijk têm raízes surinamesas, mas optaram por defender a Holanda, a famosa Laranja Mecânica. O Suriname, inclusive, é considerado uma verdadeira fábrica de talentos para a seleção holandesa.
Essa realidade, porém, começa a mudar. Estrelas como Georginio Wijnaldum, Jeremain Lens e Quincy Promes já contribuíram com fundos, chuteiras e recursos para apoiar o crescimento do futebol no país.
A diáspora surinamesa é significativa: cerca de 300 mil surinameses vivem na Holanda. Naturalmente, muitos atletas preferem jogar por uma seleção tradicional como a holandesa. Mas, por outro lado, diversos jogadores de bom nível que não conseguem espaço na “Laranja” poderiam optar por defender o Suriname.
O grande entrave sempre foram as regras de cidadania. O Suriname desencoraja a dupla nacionalidade, e quem adquire passaporte holandês fica impedido de representar a seleção sul-americana.
No entanto, há uma luz no fim do túnel. Um acordo entre a federação e o governo flexibilizou a interpretação da lei de cidadania, permitindo que jogadores com raízes surinamesas possam vestir a camisa nacional. Um dos primeiros exemplos foi Nigel Hasselbaink, que abriu caminho para que mais talentos retornem às origens.
Suriname sonha com novos desafios no futebol internacional
E essa é a magia do futebol que encanta: ver uma equipe antes desconhecida crescendo e evoluindo. A Copa do Mundo sempre possibilita a materialização desses sonhos. Certamente, pelo menos no momento, haverá mais curiosidade sobre essa seleção.
E a questão dela se afiliar à Conmebol? Nossa federação gostaria, aliás, não só o Suriname como também a Guiana e Aruba, pois isso fortaleceria um pouco mais a entidade, já que é a menor de todas, com apenas 10 filiados. No entanto, não há nada na FIFA que impeça a transferência, mesmo o Suriname tendo sido um dos membros fundadores da Concacaf.
Caso se transferissem, passariam a disputar as eliminatórias da América do Sul, jogar a Copa América e teriam clubes participando da Libertadores e da Copa Sul-Americana. Poderia ser um caminho interessante para fortalecer ainda mais a equipe. E quem sabe, assim, não conseguisse se classificar para mais Mundiais. Seria curioso ver a seleção brasileira enfrentando o Suriname — algo que nunca ocorreu até agora. Quem sabe, com a classificação, não surja o interesse de marcar um amistoso. Vale lembrar que a Argentina já jogou contra a Curaçao, outra nação em ascensão, que inclusive está no Grupo B e pode sonhar com uma vaga também.
E se o Suriname caísse no grupo da Holanda na Copa? Seria interessante acompanhar, mas nada de anormal fora de campo, já que são duas nações pacíficas. Resta aguardar as próximas Datas FIFA e, quem sabe, veremos mais um sul-americano no Mundial.
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