Do Pique-Esconde ao Swipe: Como a Infância Desaprendeu a Brincar

Crianças dos anos 80 e 90 cresceram com arranhões, risadas na rua e brinquedos improvisados. Hoje, a infância mudou — e entender por quê pode ser o primeiro passo para resgatá-la.

Você já viu uma criança brincando de amarelinha hoje em dia? Ou pulando elástico no pátio da escola? Se sua resposta foi não, saiba que não está sozinho. A infância mudou drasticamente. E não estamos falando apenas da presença da tecnologia — estamos diante de uma geração que, aos poucos, está desaprendendo a brincar. Sim, brincar! Aquela atividade essencial que molda personalidades, desenvolve criatividade e deixa memórias para toda a vida.

Brincar era viver: o espírito livre dos anos 80 e 90

Nos anos 80, bastava um pedaço de giz e um espaço de calçada para a diversão começar. Crianças passavam horas na rua, suadas e felizes. Os brinquedos muitas vezes eram improvisados: um cabo de vassoura virava espada; uma tampa de garrafa, moeda de troca; uma caixa de papelão, nave espacial.

Na década de 90, embora os videogames começassem a invadir os lares, as brincadeiras de rua ainda reinavam. Tacos de beisebol feitos com madeira de obra, guerra de mamonas, bolinhas de gude, carrinhos de rolimã, pega-pega, esconde-esconde, pião e até telefone sem fio com latas — tudo era motivo para criar laços e viver aventuras reais.

Dessa forma era comum voltar para casa com os joelhos ralados, as roupas sujas e o coração cheio de histórias. Brincar significava experimentar o mundo com o corpo todo, testar limites, fazer amigos e resolver conflitos cara a cara.

A virada de chave: a geração touchscreen

No entanto, com a chegada dos anos 2000, o mundo ficou mais veloz, mais conectado — e mais isolado. As crianças começaram a trocar a rua pelo quarto, os brinquedos físicos por telas. Tablets passaram a ser babás digitais, e as redes sociais substituíram as rodas de conversa no portão de casa.

Segundo uma pesquisa do Child Mind Institute, o tempo médio que uma criança passa ao ar livre caiu 50% nas últimas duas décadas. Em contrapartida, o tempo diante das telas disparou. Muitos pais, com medo da violência urbana, optaram por manter os filhos dentro de casa. A segurança aumentou, mas o contato com a espontaneidade do brincar livre desapareceu.

Hoje, muitas crianças não sabem o que é pular corda ou jogar bets. Não conhecem o sabor do tédio criativo, aquele que obriga a mente a inventar mundos com papel, fita adesiva e imaginação.

Curiosidade: o poder invisível das brincadeiras antigas

Você sabia que brincadeiras como amarelinha e pula corda melhoram o equilíbrio e a coordenação motora? Ou que jogos como “batata quente” e “stop” trabalham a tomada de decisão rápida e a criatividade verbal?

Essas atividades, muitas vezes vistas como simples passatempo, na verdade são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Brincar é uma forma de aprendizagem orgânica, que molda o caráter e ensina empatia, persistência e trabalho em equipe.

O resgate necessário: por que precisamos olhar para trás

Não se trata de romantizar o passado. Afinal, cada geração tem suas conquistas e desafios. Mas resgatar as brincadeiras de antigamente é uma forma de reconectar as crianças com sua essência humana. A infância não pode ser apenas uma fase de consumo de conteúdo, mas de criação, movimento e liberdade.

É possível adaptar. Dá para brincar dentro de casa, criar tardes temáticas, ensinar jogos antigos aos filhos e até organizar pequenos encontros no prédio ou no bairro. Com vontade e criatividade, o espírito brincalhão dos anos 80 e 90 pode renascer, mesmo em meio aos tempos digitais.

Brincar não é perda de tempo. É investimento no futuro. Crianças que brincam desenvolvem mais empatia, foco e equilíbrio emocional. E adultos que lembram de suas brincadeiras de infância carregam um brilho nos olhos que nenhuma tela consegue imitar.

Se quisermos uma geração mais feliz, saudável e humana, precisamos ensinar nossas crianças a brincar novamente — com o corpo, com os amigos e com o coração.

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