Pipas no céu, raízes no chão: a arte de empinar e o risco invisível que ameaça a brincadeira

Coloridas, barulhentas e livres, as pipas atravessam gerações nas periferias do Brasil. Mas o cerol, invisível e cortante, pode transformar a brincadeira em tragédia.

Quem cresceu em bairro, vila ou periferia sabe: pipa boa é aquela que sobe firme, dança no céu e faz barulho com a rabiola batendo no vento. Entre postes e fiações, a infância corre pelos becos com carretéis na mão, olho no céu e grito solto na garganta. É mais que brincadeira — é cultura de rua, é tradição de quintal, é guerra e arte ao mesmo tempo.

Mas por trás das cores vibrantes e dos combates aéreos, existe um alerta urgente: o uso do cerol, uma mistura perigosa de cola com vidro moído, que transforma fios de pipa em lâminas invisíveis. Essa prática, embora comum entre os mais ousados, já provocou mortes e mutilações — principalmente entre motociclistas e ciclistas.

☀️ Um céu de histórias: a origem das pipas

A pipa nasceu muito antes da nossa molecada descobrir os telhados. Os registros mais antigos vêm da China Antiga, por volta de 1200 a.C., onde o papel de arroz voava como oferenda aos deuses. Com o tempo, chegou à Índia, espalhou-se pela Europa e, claro, aterrissou com estilo no Brasil.

Por aqui, virou símbolo da infância nas quebradas. Nas férias escolares, o céu vira palco de batalha, desfile e poesia.

🤯 Curiosidades que você talvez não sabia sobre as pipas

  1. Na Indonésia, empinar pipa é esporte nacional. E em alguns países do Oriente Médio, é até crime.

  2. A rabiola pode mudar o equilíbrio da pipa. Uma muito longa faz ela rodar; uma muito curta deixa instável.

  3. O som da linha no vento se chama “roncador”. É um tubo de plástico ou arame que vibra quando o vento passa.

  4. “Empinar” é um termo regional. Em alguns lugares do Brasil, o povo diz “soltar pipa”, “puxar pipa” ou até “voar papagaio”.

🧒 As gírias e truques da piazada

A galera não brinca em serviço. A linguagem do mundo das pipas é rica e criativa:
“Cortar”: vencer o duelo no ar, rompendo a linha do adversário.
“Chorão”: aquele que não aceita perder a pipa.
“Recolher na mão”: puxar rápido pra ganhar o duelo.
“Passa pano!”: grito de quem pegou uma pipa caída.

Mas e quando a pipa cai? Começa a segunda fase: a caça, que pode durar horas e envolver equipes. Dessa forma alguns viram atletas urbanos, escalando muros e telhados com maestria de parkour improvisado.

⚠️ Cerol: o fio da morte

Apesar de toda a beleza, a brincadeira pode se tornar perigosa — e até fatal. O cerol, feito com cola e vidro moído, ou a versão ainda mais agressiva chamada linha chilena, fere gravemente e corta como navalha.

Segundo dados de hospitais de emergência, mais de 70% dos acidentes com linha de pipa envolvem motociclistas. Muitos usam capacete, mas a linha atinge o pescoço, causando cortes profundos. Crianças e pedestres também entram na estatística.

Importante saber:
– O uso de cerol é crime em muitos estados do Brasil.
– Multas podem chegar a mais de R$ 2.000.
– Em caso de acidente, quem soltava a pipa pode responder judicialmente.

💡 Como manter a tradição sem riscos?

– Use linha 10 ou linha de algodão sem cerol.
– Solte pipas longe de ruas e fios elétricos.
– Nunca empine em dias de chuva ou vento forte.
– Se possível, vá a campos abertos ou parques.
– Ensine as crianças sobre os perigos, sem destruir a alegria.

🌈 Um pedaço do céu nas mãos

Dessa forma empinar pipa é mais do que brincar. É resistir com alegria num mundo que insiste em sufocar a infância. É ocupar o céu com cor, com som, com grito de vitória e suspiro de esperança. Mas tudo isso só faz sentido se for seguro, se for vivo, se não ferir ninguém.

Se cada criança voa com sua pipa, que nenhum adulto perca a liberdade por causa do cerol.

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