Poucos sabem, mas a Seleção Canarinho já foi comandada por três técnicos estrangeiros ao longo de sua história: um uruguaio, um português e um argentino.
O primeiro deles foi Ramón Platero, do Uruguai, que assumiu o comando ainda nos primórdios do futebol internacional. Em 1925, antes mesmo da criação da Copa do Mundo, a principal competição da época era o Campeonato Sul-Americano — atual Copa América.
Platero dirigiu o Brasil durante a edição daquele ano, disputada na Argentina. Sua passagem foi breve, com apenas 19 dias à frente da equipe, entre 6 e 25 de dezembro, em uma campanha de quatro partidas.
Na estreia, o Brasil venceu o Paraguai por 5 a 2. Em seguida, sofreu uma derrota por 4 a 1 diante da Argentina. No segundo confronto contra os paraguaios, nova vitória brasileira, desta vez por 3 a 1. Encerrando a campanha, um empate em 2 a 2 com a seleção argentina.

Joreca – Portugal
Antes da confirmação de Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira, apenas um europeu havia comandado o time canarinho: Jorge Gomes de Lima, mais conhecido como Joreca.
Nascido em Lisboa, Joreca chegou ao Brasil ainda jovem e teve uma trajetória singular no futebol. Diferente da maioria dos treinadores, não foi jogador profissional. Iniciou sua carreira como jornalista e comentarista de rádio, enquanto cursava Educação Física no início dos anos 1940. Chegou a atuar como árbitro antes de receber suas primeiras oportunidades como técnico.
Sua trajetória ganhou destaque no São Paulo Futebol Clube, onde comandou a equipe em 172 partidas e conquistou dois títulos paulistas, em 1945 e 1946. O sucesso no Tricolor paulista abriu caminho para a Seleção Brasileira.
Em 1945, Joreca foi chamado para formar dupla com o técnico Flávio Costa no comando da Seleção. Juntos, lideraram o Brasil em dois amistosos contra o Uruguai, com vitórias expressivas: 6 a 1, no dia 14 de maio, no Rio de Janeiro, e 4 a 0 quatro dias depois, em São Paulo.
Após a breve passagem pela Seleção, Joreca seguiu no comando do São Paulo até 1947, dois anos antes de falecer, vítima de uma parada cardíaca, em 1949. Ainda hoje, é lembrado como um dos maiores treinadores da história do clube paulista.

Filpo Nuñez
Em 1965, um fato inusitado marcou a história do futebol brasileiro: Filpo Núñez, técnico argentino do Palmeiras, tornou-se o único treinador da Argentina a comandar a Seleção Brasileira.
Na época, o Brasil já era bicampeão mundial sob o comando de Vicente Feola, mas a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) decidiu escalar o Palmeiras como representante do país em um amistoso contra o Uruguai, partida que marcou a inauguração do estádio Mineirão, em Belo Horizonte.
Com o Verdão em campo, coube a Filpo Núñez, técnico do clube paulista, assumir a função de comandante da Seleção Brasileira naquela partida. E não decepcionou: o Brasil venceu por 3 a 0, em uma atuação convincente.
Apesar de ter ocupado o cargo por apenas um dia, Filpo é reconhecido oficialmente como técnico da Seleção Brasileira naquele jogo, entrando para a história do futebol nacional de forma curiosa e única.
Ao longo da carreira, Filpo também treinou o Independiente de Rivadavia, na Argentina, e comandou o time feminino do Palmeiras. No Brasil, passou por quase 30 clubes e foi campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1965 com o próprio Palmeiras.
Filpo Núñez faleceu em 1999, aos 78 anos. Ele era tio de Eduardo Coudet, ex-técnico do Internacional e do Atlético-MG.
