O Brasil já teve o seu quase 11 de setembro, porém a data era 29 de setembro de 1988. No protagonismo, ninguém ligado ao talibã, mas sim, Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, um brasileiro descontente com os rumos que a nação vinha tomando.
O voo 375 da Vasp saiu naquela manhã de Porto Velho ,com 38 pessoas a bordo, destino ao Rio de Janeiro. Com quatro escalas: Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Onde embarca Raimundo, dessa forma , totalizando 105 pessoas a bordo.
Após essa decolagem que Raimundo anunciou o sequestro. Armado ele rendeu o piloto e copiloto, obrigando desviar a rota para Brasília. Seu objetivo era atentar contra a vida do presidente da época, José Sarney, jogando o avião contra o Palácio do Planalto. O motivo do ato seria sua insatisfação com os políticos e o desemprego no país, que ele culpava pelo próprio fracasso.

Como foi a tensão no voo 375
Com tudo já arquitetado, vinte minutos após a decolagem de Belo Horizonte, Raimundo decidiu que era hora de colocar o plano em prática. Levantou-se da poltrona e seguiu rumo à cabine de comando. Todavia, o comissário de bordo Ronaldo Dias tentou impedir sua aproximação.
No entanto, determinado a não ser barrado, Raimundo disparou um tiro contra o comissário, que, por sorte, foi atingido apenas de raspão na orelha.
O disparo foi suficiente para alertar os pilotos de que algo anormal estava acontecendo. Rapidamente, eles trancaram a porta da cabine, mas Raimundo começou a atirar contra a estrutura. Vale destacar que, na época, as portas das cabines ainda não tinham blindagem, o que tornava a situação ainda mais tensa.
Mudança de rota
Fernando Murilo de Lima e Silva, piloto do avião, conseguiu acionar o código 7500 no transponder. Esse é um código internacional usado para avisar aos órgãos de controle de tráfego aéreo de que o avião está sob “interferência ilícita”. Com o alerta, um caça Mirage da FAB (Força Aérea Brasileira) decolou da base aérea de Anápolis (GO) para acompanhar o voo.
Sobre as ameaças de Raimundo e ainda não suspeitando quais eram as reais intenções, o comandante seguiu as orientações e a nave mudou a rota do voo. O controle de tráfego aéreo entrou em contato pelo rádio para confirmar a mudança de rota, sem mencionar que já havia recebido o alerta do comandante.
Fernando, o comandante, tentou evitar a ida à capital, argumentou com o sequestrador que o clima estava sem condições de voo em Brasília e não teria visibilidade para sobrevoar a região.
Outro argumento foi estar com pouco combustível, e precisaria parar para reabastecer. Nesse momento, Sarney já estava por dentro do que estava acontecendo, nisso, Fernando já o convenceu a mudar a rota para Goiânia.
Porém, Raimundo muda novamente de posição e neste instante ordena que a rota seja desviada até São Paulo. E a todo instante estava com uma arma apontando para cabeça do piloto.
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Nova mudança de rota
Quando o sequestrador ordenou uma nova mudança de rota para São Paulo, mantendo o piloto sob a mira de uma arma, o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva tomou uma decisão ousada. Ele executou uma manobra arriscada chamada tonneau (giro completo sobre o próprio eixo da aeronave), uma técnica comum em caças, mas que nenhum piloto havia realizado antes em um avião comercial.
O objetivo era desorientar Raimundo Nonato, que já havia atirado no copiloto, ferindo-o gravemente. No entanto, o sequestrador conseguiu se manter na cabine. Diante disso, Fernando realizou outra manobra extrema: colocou a aeronave em um mergulho em parafuso. Isso fez com que Raimundo fosse arremessado para fora da cabine, permitindo ao piloto reassumir totalmente o controle.
Como consequência das manobras, o avião ficou sem combustível e precisou realizar um pouso de emergência na Base Aérea de Goiânia (GO). Já em solo, a Polícia Federal entrou em ação. No momento em que descia a escada da aeronave levando o comandante como refém, um agente de segurança que estava a bordo baleou e matou Raimundo, encerrando o sequestro.
O comandante Fernando Murilo foi reconhecido como um herói, pois sua coragem e habilidade impediram uma tragédia que poderia ter custado muitas vidas.

Troca de tiros na pista
Após a aterrissagem, Raimundo permaneceu por mais cinco horas dentro da aeronave, exigindo um avião menor. Ao descer , ele levou, além do comandante, dois comissários de bordo como reféns. Durante a troca de tiros, os comissários conseguiram escapar correndo para um matagal próximo à pista.
Raimundo, então, descarregou seu revólver na direção do comandante, que foi atingido na perna. Outros policiais, que já estavam no local, dispararam contra o sequestrador, atingindo-o três vezes.
As autoridades encaminharam imediatamente o sequestrador para o hospital, mas ele morreu dias depois. Os médicos divulgaram a causa de sua morte como um quadro infeccioso relacionado à anemia falciforme — uma doença genética e hereditária que uma anormalidade na hemoglobina dos glóbulos vermelhos causa
Morte do copiloto
O paulistano Salvador Evangelista, mais conhecido como Vângelis, tinha uma grande paixão pelo ofício de voar. Embora não estivesse escalado para aquele voo, ele trocou sua escala para poder estar presente no aniversário de sua filha, que completaria 8 anos no dia 4 de outubro.
Infelizmente, Vângelis foi morto com um tiro na nuca após tentar estabelecer contato com o controle de tráfego aéreo para relatar o sequestro.
Wendy Evangelista, filha do copiloto, estava com os avós em Curitiba na ocasião, cidade onde ela ainda mora. A expectativa era pela chegada do pai, mas essa esperança acabou se tornando apenas uma lembrança.

Sequestro do voo 375, Virou filme

E toda essa trama virou filme, dirigido por Marcus Baldini, estreado em dezembro de 2023.
Elenco: Danilo Grangheia, Jorge Paz, Roberta Gualda.
Veja o trailer