Você trabalha demais? Reflexões sobre a escala 6×1 e a qualidade de vida

Trabalhador, seja sincero: você sente que trabalha além do limite? Sua jornada é 6×1? Como isso afeta sua vida? É possível equilibrar trabalho e qualidade de vida em uma rotina tão exigente?

Essas questões estão ganhando cada vez mais espaço nos debates sociais, levantando a possibilidade de mudanças nas relações trabalhistas. Recentemente, um projeto de lei chamou a atenção ao propor o fim da escala 6×1, defendendo uma abordagem centrada no conceito de VAT (Vida Além do Trabalho). A proposta vem ganhando força, com um número crescente de apoiadores que discutem seus benefícios e possíveis desafios.

Entre os que abordaram o tema está o vice-presidente Geraldo Alckmin, que comentou sobre a tendência de jornadas mais curtas em função dos avanços tecnológicos:

“Isso ainda não foi discutido, mas acho que é uma tendência no mundo inteiro. À medida que a tecnologia avança e permite fazer mais com menos pessoas, você pode ter uma jornada menor. Mas esse é um debate que cabe à sociedade e ao Parlamento.”

Enquanto Brasil pensa no 5×2 Alemanha testa 4×3

Um estudo realizado pela 4 Day Week Global (4DWG) com 45 empresas na Alemanha mostrou que a adoção de uma semana de trabalho de quatro dias, sem redução de salários, tem impactos positivos significativos na produtividade e no bem-estar dos funcionários.

Foram ao todo seis meses de estudo e o resultado revelou que: 67% dos funcionários se sentiram mais satisfeitos e produtivos, 64% relataram menos estresse e esgotamento, 42% menos demissões, 2/3 dos funcionários experimentaram menos distrações devido à otimização de processos internos.

Dessa forma as empresas também adaptaram suas estratégias para maximizar a eficiência: Mais da metade reformulou reuniões, tornando-as mais curtas e menos frequentes, 1/4 adotou novas ferramentas digitais.

Esses resultados demonstram que a redução de horas de trabalho não compromete a produtividade e pode trazer benefícios significativos para os empregadores e empregados. O estudo reforça a possibilidade de transformar o modelo tradicional de trabalho, promovendo uma melhor qualidade de vida e aumento da produtividade.

Brasil é um dos países com maior carga de trabalho

De acordo com dados , o Brasil está entre os países com as maiores cargas horárias de trabalho no mundo. Os brasileiros trabalham, em média, mais de 44 horas semanais, ultrapassando significativamente a média global de 36,4 horas semanais, conforme a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Essa carga horária excessiva pode trazer sérias consequências para a saúde dos trabalhadores, incluindo: Estresse crônico, Fadiga, Problemas de sono, Doenças cardíacas, Depressão.

Além dos impactos na saúde, jornadas longas também prejudicam a produtividade, resultando em: Redução da concentração e foco, Aumento de erros e acidentes de trabalho, Baixa motivação, Maior rotatividade de funcionários.

13° Também quebraria o país

O que poderia ter sido visto como uma ameaça à economia tornou-se um estímulo significativo para o aumento das vendas no período de Natal. A criação do 13º salário, proposta em 1959 pelo deputado Aarão Steinbruch (PTB-RJ), foi aprovada pelo Senado em 27 de junho de 1962 e sancionada pelo presidente João Goulart em 13 de julho do mesmo ano. Essa medida resultou na Lei 4.090, de 1962, que assegurou a todos os empregados o direito a uma gratificação de fim de ano equivalente a 1/12 do salário de dezembro para cada mês trabalhado.

Contudo vale destacar que o 13º salário não é uma exclusividade brasileira. Diversos países ao redor do mundo adotam práticas semelhantes, como Portugal, México, Argentina, Uruguai, Espanha, Itália, Armênia, Grécia e Alemanha.

Na Alemanha, por exemplo, além do 13º salário, os trabalhadores recebem um “bônus de Natal”. Já na Itália, os funcionários podem contar até mesmo com um 14º salário, oferecendo um suporte financeiro adicional significativo para as famílias.

Leis trabalhistas ao redor do mundo

Em diversos países as leis trabalhistas são pautadas na qualidade de vida do empregador, dentre estes podemos citar:

Suécia
Atualmente a jornada de trabalho é de 40 horas semanais, com discussões sobre redução para 35 horas.
Licença parental: Até 480 dias (cerca de 16 meses) compartilhados entre os pais, com parte do período remunerado.

Férias: Mínimo de 5 semanas anuais.

Proteção ao emprego: Difícil demitir sem motivo justificado; o trabalhador tem direito a aviso prévio e compensação.

Flexibilidade: Incentivo ao trabalho remoto e horários flexíveis.

Dinamarca

Modelo flexissegurança: Facilita contratações e demissões, mas oferece seguro-desemprego robusto.

Férias: 5 semanas pagas, além de feriados.

Licença parental: 52 semanas no total, divididas entre os pais.

Salários mínimos elevados: Regulados por negociações sindicais, em vez de uma lei nacional.

Alemanha

Jornada de trabalho: 35 a 40 horas semanais, com limites rígidos para horas extras.

Férias: 4 semanas mínimas, mas muitas empresas oferecem 6.

Licença parental: Até 14 meses pagos em alguns casos chega 3 anos de licença, mas daí não é todo o período que é remunerado.

Proteção ao trabalhador: Demissões requerem justificativa legal, com direito a indenizações ou reintegração.

Treinamento contínuo: Incentivo ao aprendizado e capacitação no trabalho.

França
Semana de trabalho: 35 horas semanais, com pagamento extra por horas adicionais.

Férias: Mínimo de 5 semanas anuais.

Feriados pagos: 11 dias nacionais.

Desconexão digital: Direito de não responder a comunicações relacionadas ao trabalho fora do expediente.

Holanda

Jornada de trabalho: Média de 36 a 40 horas semanais.

Flexibilidade: Muitas opções para trabalho em meio período e horários adaptáveis.

Férias: 4 semanas mínimas e pagamentos adicionais de “subsídio de férias”.

Equilíbrio vida-trabalho: Encorajado pela cultura e pela legislação.

Austrália

Jornada padrão: 38 horas semanais, com horas extras regulamentadas. Salário mínimo: Um dos mais altos do mundo, revisado anualmente.

Licença parental: Até 18 semanas remuneradas no salário mínimo.

Férias: 4 semanas anuais, além de 10 feriados nacionais.

Proteção ao trabalhador: Leis rigorosas contra discriminação e condições inseguras.

Noruega

Jornada de trabalho: 37,5 horas semanais.

Férias: 5 semanas, com adicional de 10,2% do salário no pagamento de férias.

Licença parental: Até 59 semanas, com 80% do salário, ou 49 semanas com 100%.

Seguro-desemprego: Generoso, com alta proteção social.

Finlândia

Jornada de trabalho: Leis que permitem horários flexíveis.

Férias: Mínimo de 4 semanas.

Licença parental: 164 dias por pai ou mãe, com possibilidade de transferência entre os pais.

Educação contínua: Incentivo ao aprendizado e formação profissional.

Islândia

Jornada de trabalho: Projetos-piloto para reduzir jornadas para 4 dias por semana sem perda de produtividade.

Férias: 4 semanas.

Licença parental: 9 meses divididos igualmente entre os pais, com remuneração proporcional.

Por que esses países se destacam?

Primeiramente, Sindicatos fortes: Muitos desses países têm sindicatos poderosos que negociam melhores condições.
Políticas sociais robustas: Apoiadas por sistemas de saúde, educação e seguridade social acessíveis.
Cultura de equilíbrio: Há uma valorização da qualidade de vida e do bem-estar dos trabalhadores.

Japão não é exemplo para ninguém

A alta carga horária de trabalho no Japão tem sido associada a altos índices de suicídios, uma questão que tem sido amplamente discutida no país. O termo japonês para essa relação é “karoshi”, que significa “morte por excesso de trabalho” e é usado para descrever os suicídios ou mortes por doenças relacionadas ao estresse excessivo do trabalho. Embora o Japão tenha uma economia forte e uma cultura de trabalho altamente produtiva, essa cultura tem um custo significativo para a saúde mental e física de muitos trabalhadores.

Nos últimos anos, o Japão tem tentado implementar mudanças para reduzir a carga de trabalho e melhorar as condições para seus trabalhadores. Em 2019, por exemplo, o Japão introduziu uma lei de limites de horas extras, que limitou o número de horas extras para 100 horas mensais, embora ainda seja considerado alto. Além disso, algumas empresas começaram a adotar a política de “desligar-se mais cedo” para ajudar a reduzir o estresse. No entanto, essas mudanças têm sido lentas e não são aplicadas uniformemente em todos os setores.

A relação entre a alta carga horária no Japão e os suicídios é um reflexo de uma cultura de trabalho que prioriza a dedicação extrema ao trabalho, muitas vezes em detrimento da saúde mental e do bem-estar dos trabalhadores. O governo japonês e as empresas precisam continuar implementando políticas para reduzir as horas extras, oferecer apoio psicológico e mudar a mentalidade cultural que valoriza o sacrifício excessivo no trabalho em vez do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Isso é crucial para combater a crise de saúde mental e reduzir os trágicos casos de suicídio relacionados ao trabalho no Japão.

O Excesso de Trabalho Pode Levar a Coreia do Sul a uma Crise Demográfica

A afirmação pode soar alarmista, mas é respaldada por números preocupantes. Com uma taxa de natalidade de apenas 0,85 filhos por mulher, a mais baixa do mundo, a Coreia do Sul enfrenta o risco de um declínio demográfico que pode impactar todas as áreas da sociedade. Uma das principais causas dessa crise é a alta carga horária de trabalho, que dificulta a decisão de formar uma família e ter filhos.
Como o Excesso de Trabalho Afeta a Natalidade

Estudos apontam que a cultura de trabalho da Coreia do Sul, marcada por longas jornadas, competitividade extrema e a expectativa de lealdade irrestrita às empresas, é um dos maiores obstáculos para a vida familiar. Veja os principais fatores que conectam o excesso de trabalho à baixa natalidade:

Falta de tempo para a vida pessoal e familiar

A rotina exaustiva dos trabalhadores sul-coreanos, muitas vezes complementada por horas extras, deixa pouco ou nenhum tempo para atividades pessoais. Esse ambiente dificulta a formação de laços familiares e torna desafiador para jovens casais assumirem o compromisso de criar filhos.

Pressão no ambiente de trabalho

A dedicação quase exclusiva ao trabalho faz com que ter filhos seja visto como incompatível com o nível de produtividade esperado. A falta de políticas robustas de suporte às famílias, como horários flexíveis ou licenças parentais mais amplas, agrava ainda mais a situação.

Impactos Culturais e Sociais

A cultura sul-coreana valoriza intensamente o sucesso profissional e a competitividade, o que cria barreiras para os que desejam equilibrar trabalho e vida pessoal. O tempo e os recursos necessários para cuidar de crianças são frequentemente percebidos como obstáculos à carreira, desencorajando muitos a formar famílias.

Se a taxa de natalidade continuar nesse patamar, a Coreia do Sul enfrentará sérias consequências econômicas e sociais, como envelhecimento acelerado da população, escassez de força de trabalho e aumento dos custos com saúde e previdência.

A crise de natalidade na Coreia do Sul destaca a necessidade de reformas profundas no ambiente de trabalho, com a criação de políticas que incentivem o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Sem essas mudanças, o país pode enfrentar um futuro incerto, tanto em termos populacionais quanto econômicos.

Não É Pelo Fim do Trabalho, É Pela Melhora

Essa discussão é essencial, pois envolve questões fundamentais para a qualidade de vida. Trata-se de buscar um equilíbrio melhor: mais tempo para realizar cursos, se engajar em ações sociais, e, principalmente, para conviver com a família, especialmente os filhos.

Outro ponto relevante é o tempo que o brasileiro perde no trajeto entre casa e trabalho, o que aumenta ainda mais as horas longe do lar e agrava o impacto da longa jornada de trabalho.

Ao comparar o Brasil com outros países, fica claro que ainda há muito a avançar. No entanto, é evidente que alguns discursos mostram falta de conhecimento. Muitas vezes, há quem exalte a CLT de forma exagerada, como se não houvesse legislações trabalhistas em outros países — o que está longe da verdade.

Felizmente, a pressão popular tem crescido, especialmente no que se refere ao fim da jornada 6×1. A busca é por condições que permitam ao trabalhador, de fato, viver além do trabalho.

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